29 de outubro de 2010

Design para um mundo imperfeito

Designer Carlos André Gomes revela os segredos para o sucesso na área
Por Monique Oliveira e Rafael Ramos

Convidado para palestrar na quinta noite da sétima edição da Semana de Comunicação da Universidade Estácio de Sá – Campus Madureira, o designer Carlos André Gomes mostrou as grandes mudanças pelas quais o mercado evangélico tem passado. Trabalhando atualmente no projeto gospel da gravadora Sony Music, Carlos André, que atua há 20 anos na área, ressaltou aos estudantes a importância de conhecer a história do design e que não basta ter boas ideias se não souber como defendê-las e deixa um alerta: “Esqueçam os tempos clássicos que a gente aprende na faculdade dentro de projetos. Se acostumem a dar respostas rápidas e preparem-se para oferecer muitas versões da mesma peça”.


1. Você começou a se interessar por design aos sete anos. Como era sua percepção ainda na infância?
Olha... É um negócio problemático porque, na verdade, são as pessoas que escolhem a sua profissão. A minha família, a minha história e as pessoas que me cercam não têm nada a ver, ninguém sabia de onde veio esse meu interesse por design, nem eu mesmo sei. Então, dentro das poucas certezas que tenho na vida, tenho a certeza que essa profissão me escolheu porque, na verdade, começou quando ganhei uma enciclopédia. Eu era um moleque, uma criança, não existia internet e eu lia muito. A minha vó que é uma pessoa de classe muito baixa trabalhava na casa de uma pessoa de classe média e viu uma enciclopédia e achou que era algo muito importante e falou que ia me dar uma. Começou a juntar os fascículos, montou a enciclopédia e me deu e fiquei lendo o dia inteiro aquilo e, por volta dos sete anos, fui parar no colégio primário e, vendo os painéis que os professores faziam, eu realmente surtei naquela hora. Logo em seguida veio a Copa do Mundo na Argentina e eu surtava com aqueles logotipos.. Quando cheguei aos 12 anos, finalmente entendi a página sobre a Bauhaus porque não entendia nada sobre uma escola em que as pessoas aprendiam a fazer abajur. Foi a partir daquilo que percebi que gostava tanto do design que nunca mais me afastei disso.
2. Como era fazer design nos anos 90 quando a tecnologia ainda não era algo tão avançado quanto hoje?
Olha... Era completamente diferente porque graças a esse atraso tecnológico que me transformei em designer. Na verdade, durante o período em que eu estava na faculdade, percebi que isso que vocês têm aqui eu não teria tão cedo. Meus objetos de diversão eram lápis Caran D’Ache, papel, pincéis e guaches, enquanto lá fora eu sabia que existia PageMaker, Ventura Publisher e uma série de programas que não tinha na faculdade. Então, corri atrás disso e fiz um curso que me abriu as portas no mercado de designer. As pessoas saíam da faculdade sem saber o que iam encontrar pela frente e eu passei a encontrar o que tinha que fazer pela frente e acabei saindo antes da faculdade.
3. Você já atuou em vários segmentos dentro da área de design. Qual foi o mais desafiador?
Olha... A área mais difícil para um designer é aquela na qual ele não tem nenhuma capacitação e, se o designer tem fundamentação, ele pode atuar em diferentes áreas. Eu nunca tinha feito livro quando me chamaram para fazer livro. Nunca tinha feito capas de CDs quando comecei a fazê-las. Então, se você tiver fundamentação, você consegue fazer tudo. Claro que terão áreas onde você se destaca mais e onde se destaca menos. Eu recomendo que se estude porque estudando as coisas realmente ficam mais fáceis. Difícil é tudo aquilo que você não conhece.
4. Percebe-se que seu trabalho tem uma linha mais conceitual e, atualmente como designer na Sony Music, qual o processo para a criação de capas tão diferenciadas como foram as do Resgate e do Leonardo Gonçalves?
Essas ideias surgem de toda uma experiência que eu desenvolvi por minha própria iniciativa que sempre foi essa paixão, esse fogo em fazer. Infelizmente, isso falta muito aos designers de hoje em dia que têm sido levados num horário comercial e isso não é designer. Designer é aquele cara que, quando chego lá no CCBB onde vou frequentemente, está lá parado olhando para aquelas capas, materiais e exposições. Designer é aquele cara que quando eu vou ao MAM, está lá perdido fazendo suas análises. Esse cara vai adquirir um conhecimento visual que vai permitir a ele o momento de utilizar metáforas que não são muito utilizadas no universo evangélico. Então, é importante fazer, é importante conhecer o trabalho dos grandes mestres e deixar de olhar apenas o que acontece no agora. Essas capas que você cita como sendo importantes ou diferentes não se situam no universo da comunicação visual que é feito nesse exato momento. Eu não passo os meus dias olhando o que os outros designers estão fazendo agora recentemente. Eu acho que quanto mais você olha para o que foi feito na história, mais você percebe que o importante é o que é duradouro. Quem tem acesso ao que é duradouro, ao que é antigo, ao que é perene tende a ter capacidade de fazer coisas que sugerem novidade porque de novo não existe nada.
5. No blog Observatório Cristão você escreveu sobre criar algo emblemático. Como não se repetir nessa área de design e realmente criar esse algo emblemático?
Em geral eu procuro encontrar aquilo que certa vez aquele filósofo contemporâneo Clodovil Hernandez definiu como sendo a verdade. Eu tenho que encontrar a verdade do produto e a verdade do artista. Quanto mais você olha para o indivíduo que está fazendo a obra, mais você consegue diferenciá-lo porque, na verdade, ninguém é igual a ninguém. Se você fizer uma análise detalhada do DJ Alpiste você consegue compor uma capa como aquela que foi composta para ele, mas para isso você tem que ler a discografia dele e ver como ele se diferencia dos outros rappers. Quando você olha para a obra do Leonardo Gonçalves em detalhe, você consegue ver que aquela capa pode ser feita para ele. Você não se repete quando você está sempre atento a quem são as pessoas e as pessoas não são iguais. O que acontece é que as pessoas querem partir, em geral, de ideias pré-concebidas e essas ideias, muitas das vezes, não respondem a todos os problemas do designer.
6. Como está o mercado de trabalho para quem deseja atuar nessa área e o que o mercado exige desse profissional?
Olha... Exige múltiplas competências porque temos muitas divisões dentro do mercado de designer. Temos o baixo clero do designer que são empresas que permitem a entrada de pessoas para aprender, estagiar e tem atividades que não exigem muita capacidade criativa, mas tem uma capacidade organizacional e existem muitas oportunidades iguais a essa. Tem um outro extrato da pirâmide do designer que é um pouco mais selecionado, que são aqueles profissionais que têm competência para compor, o que já é um outro nível que a pessoa adquire por volta de cinco anos trabalhando. Depois de dez anos que é o profissional maduro que necessariamente precisa ter uma consciência do que acontece em todas as áreas, precisa ter uma cultura geral que falta muito atualmente. Muitas pessoas só conhecem o mundo em que elas vivem, é preciso conhecer o que foi feito antes. Quando você senta para conversar com um artista, ele vai cobrar de você esse conhecimento senão você não consegue fazer nada para ele.
7. Como esse profissional ainda no período de aprendizagem deve se preparar para o mercado?
Eles devem começar imediatamente a se confrontar com as questões que eles vão enfrentar no mercado de trabalho. Quais são elas no caso do designer? Eles têm que se preparar para defender suas ideias, há uma deficiência muito grande na defesa de ideias. As ideias, às vezes, são boas, mas elas não são acompanhadas de um porque e as pessoas querem saber por que você faz aquilo e não outra coisa. Existe uma deficiência na justificativa dos projetos, existe também uma necessidade de eficiência nos softwares, isso é inegável. Não existe um designer hoje que vá sentar com guache o que é muito restrito. É preciso uma eficiência técnica, uma fundamentação teórica e disposição para trabalhar muito porque não é essa moleza que a gente imagina.


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